Em novo vídeo divulgado nas redes sociais, a jornalista Ana Paula Mendes destaca a falta de oportunidades para mães recentes. Pesquisas mostram que mais da metade das mulheres perde o emprego após voltar da licença-maternidade
"A pequena violência é constante todos os dias. Você, na condição de mulher, ao sair à rua, vai sofrer algum tipo de agressão, seja um assovio, seja um tratamento diferente. O mercado de trabalho também é hostil à presença da mulher." Assim, o advogado Luciano Régis começou um bate-papo com a jornalista Ana Paula Mendes sobre a difícil relação da mulher que é mãe com o mercado de trabalho. A conversa trouxe à tona, na Semana Internacional da Mulher, uma discussão sobre a falta de proteção às mulheres que voltam ao mercado após a licença-maternidade.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas mostrou que mais da metade das mulheres que voltam da licença perde o emprego antes de a criança completar um ano. A maioria das demissões é feita pela empresa, por um homem e sem justa causa. Entre as justificativas está a queda na produtividade da empregada com filho pequeno, devido ao aumento do número de faltas provocadas, por exemplo, pelo adoecimento da criança. A visão machista de que só a mãe pode dar conta das obrigações com o filho, como levar ao médico, também ajuda a disseminar a visão negativa sobre a mulher que acabou de se tornar mãe.
Outra pesquisa, da Fortune, mostrou que as mulheres sem filhos têm 80% mais chances de conseguir uma vaga do que uma mulher que já é mãe, apesar da mesma formação.
Pela legislação brasileira, a mulher que trabalha com carteira assinada ou a microempreendedora individual tem 120 dias (4 meses) de licença-maternidade. Neste período, recebem da empresa a remuneração habitual, sem qualquer tipo de desconto. A partir do parto, a mulher também ganha 5 (cinco) meses de estabilidade no emprego, no caso daquelas que trabalham no regime CLT. Muitas são demitidas logo após o fim desse prazo de estabilidade.
Foi o caso de Ana Paula Mendes, demitida da Inter TV, afiliada Rede Globo no interior do Rio, no dia em que voltou da licença-maternidade, acrescida com mais um mês de férias. Ao fim do prazo de cinco meses, ela foi desligada da empresa com a alegação de corte de gastos. A notícia ganhou repercussão nacional e provocou uma comoção nas redes sociais. "E sem fazer julgamento de mérito, mas você passou bem isso na pele", disse Luciano Régis. "Ah, era corte de pessoal. Aconteceu no Brasil inteiro. Mas eu acho que o empregador, ele precisa ter sensibilidade para entender caso a caso e também a legislação precisa avançar. Não basta só a licença-maternidade, ela precisa ter estabilidade no emprego", acrescentou. Em alguns países da Europa, a família chega a ter estabilidade de 6 anos no trabalho.
"Eu acho que no dia em que você pega o exame positivo de gravidez, dá aquela alegria tremenda. Até o nascimento da criança, há um turbilhão de emoções, inúmeras incertezas do que será, como será. E aí tem que preocupar se depois você vai estar empregada ou vai estar empregado? E aí você fica com um filho, com uma filha para criar desempregada", completou o advogado. "E eu acompanhei os comentários na sua rede social, eu acho que é um dos posts seus com maior relevância. E aí você vê que não é um caso isolado, que isso é uma constante, essa violência é constante. E aí, se você analisar, não sei se é o seu caso, mas se você analisar, via de regra, o superior que determinou a ordem, quem apertou o botão, é um homem que não tem a sensibilidade do que é ser mãe, do que é ter passado por um período difícil de gestação", finalizou.
Para as mulheres com filho pequeno que continuam empregadas, a legislação prevê o direito a dois descansos de meia hora cada um, durante a jornada de trabalho, para amamentar o filho até os seis meses de idade. A medida é válida para filhos adotivos. As empresas que possuem mais de 30 mulheres no quadro de funcionários, com mais de 16 anos, devem fornecer um local adequado para que as mães possam amamentar as crianças.
Para a psicóloga Raquel Gotardo, que tem um filho com menos de um ano e conhece bem essa realidade, as mães que devem trabalhar não podem ficar fora do mercado de trabalho. "Sei que tem mães que se realizam muito sendo mãe integral e eu acho isso muito bonito. Eu acho que a mãe precisa ter liberdade para fazer essa escolha. Mas a partir do momento que há o desejo de trabalhar, o trabalho também nos constitui como pessoa. Nossa realização social, nossa realização emocional, então, é muito importante viver isso", disse. Segundo a psicóloga, a tarefa de ser mãe o tempo todo pode comprometer a saúde mental da mulher. "Porque a amamentação gasta muita energia física, é um trabalho que não tem folga, pausa, você trabalha de segunda a segunda. Às vezes, a sensação é que a gente está descansando trabalhando fora, porque o trabalho de casa exige mais da gente", complementou.
Raquel lembra que a mulher precisa aprender a dividir mais as tarefas com o pai, para não ficar sobrecarregada. "O maternar é só da mãe mesmo, mas eu vejo que foi construído socialmente, que o pai estava só no mercado de trabalho, ele era o provedor e ele não participaria da rotina da casa. Mas isso mudou. A partir do momento que a mulher foi para o mercado de trabalho, hoje a gente tem uma realidade que os pais precisam participar da casa", disse. "E ainda existe essa mentalidade de que o cuidado geral é da mãe. Eu vejo que tem muitas mães, inclusive algumas que eu já acompanhei no consultório, elas acham que o cuidado só ela vai saber fazer, porque isso é delicado também, né? Por mais que o pai não vai fazer exatamente do seu jeito, é preciso confiar que ele também ama o filho e ele também vai cuidar. Ele não vai fazer do seu jeito. Vai fazer do jeito dele", complementou."
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